Do teu amor, fiz carnaval, me fiz boêmio enquanto pude. Minhas máscaras, seguras, garantidas, estavam cada vez mais às esconsas. Minha expressão tênue, porém faceira, vislumbrava uma sensação correspondente ao desejo e à esperança de te ver iludida, desonrada. Na verdade, minha resistência flutuava sobre tua firme petulância, inenarrável, da minha fidelidade. Pobre de ti. Perseverante, por sinal. Será que a falta do meu panamá, toda noite, te rosnando, te perfumando, não te tornava convencida? Minha ama, nunca duvides dos meus sentimentos, adormeci até as estrelas, para que te deixassem descansar. Mais forte foi a necessidade, meu jardim, fértil, precisava estar sempre florido, nenhuma com teus atributos, tua sensatez, teu aconchego. Artefatos que me faziam pensar e repensar. Já era tarde, teu engano, restituia-me da mais profunda fraqueza, agonizava sob as melancólicas mazelas a que me permiti, mas minha indolente retórica não admitia retratação. Adeus, minha partida não poderia ser adiada, o momento tornou saturadas todas as poucas horas dos meus dias, te ver sofrer, se algum dia destampasse meus traiçoeiros melindres, flecharia meu orgulho e eu não resistiria. Ó meu amor, onde me encontrar, estará comigo teu perfume, tua última palavra, tua dedicação. Levarei com minhas convicções tua sabedoria, quiçá tornarei apto a continuar vivendo. Compreendas que foi a mulher mais feliz do mundo, estarei nas esquinas, bueiros do destino, sempre retendo-te na memória, só esperando o dia da partida.
Do teu eterno,
Conrado.